ao som de Radiohead – just
O sangue escorre quente por entre os dedos trêmulos. Sabe-se lá o que se passa pela cabeça de Zigmund agora. Ele olha extasiado, perplexo, vitimado pelo acaso que lhe entorpece as ideias.
O que poderia fazer diante de tal situação não parece ser a pergunta que ele faz. Seus olhos estão fixos no vermelho escuro do sangue entre o cheiro metálico e o terror. Suas pernas tremem, mas ele não parece perceber enquanto vai ficando de joelhos a cada passo. A luz fraca que atravessa a janela desenhando formas quadradas no chão é a única luz do quarto vazio. O cheiro do tempo pelo mofo do lugar arde um pouco as narinas. A poeira lentamente apresenta-se dentro da luz… suave e plena sumindo em seguida. O som dos carros lá fora em tempos longos e distintos envolvem-se nas palpitações agonizantes de Zigmund. É quando ele por fim força olhar para trás. Precisa ver quem atirou. Sua mão distancia-se ainda mais do peito perfurado. O pulmão já não se enche de ar. Quando gira a cabeça uma tontura mórbida escurece ainda mais o interior do quarto. É quando um brilho clareia em segundos o rosto do executor. Um brilho rápido que desenha claro um sorriso psicótico e parado a um passo depois da porta. E os cabelos longos, aqueles cabelos longos que somem justamente quando o som rasga como o projétil rasga a pele e quebra os ossos empurrando o corpo que já caia ao chão frio e sujo de um quarto esquecido. Quando sua face arrasta rente aos pedaços retangulares de madeira um pensamento corta a mente enjaulada na morte iminente. “O que vim fazer aqui mesmo?”. Zigmund nunca mais conseguirá responder a essa pergunta. Zigmund sente na garganta o gosto da fatalidade enquanto sente cada vez menos o ar que nunca se importou em puxar. Engole a grandes goles o sangue que pulsa estranhamente para direções erradas. E baba quente e vermelho sentindo uma dor aguda no peito parecendo a dor do coração quando se para de amar. E no intrépido fim ao longe ele escuta o som de passos compassados chegando cada vez mais perto acompanhados pelo escuro final e uma mão delicada no rosto lhe acariciando a face agonizante. Assim ele abre a boca num último e fatal ato forçado… fala afogado: “Vaca!”.
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